BLOG DA THAYS

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quinta-feira, 10 de junho de 2010

As muitas Marias

É impressionante como o posicionamento e as atitudes de uma pessoa dependem diretamente do ambiente em que está inserida. Tanto que as histórias dessas pessoas possuem características semelhantes, fazendo com que atitude de quem sobrevive do esforço físico precoce não permita mudanças em sua própria história.
Podemos dizer que grande parte da população brasileira vive em um ambiente de simplicidade devido a poucos recursos. Observando os acontecimentos em “Vida Maria” notei que as atitudes, posicionamento e expressividade são resultantes do próprio meio em que estão inseridos e da falta de orientação educacional as expectativas de mudanças sejam substituídas pela necessidade de garantir a sobrevivência. E essa situação não é novidade, o abandono do estudo pela necessidade de trabalhar é algo que persiste a muitos anos, sendo um dos maiores empecilhos encontrados por crianças residentes em pequenas cidades e de baixa renda.
As histórias e as experiências se assemelham e se repetem mostrando a luta pela sobrevivência, onde não existe a concepção de que os meios educacionais abrem caminho e podem transformar a trajetória árdua em um caminho de realizações e conquistas almejadas por muitos, mas reprimidas pela dureza da realidade existente e sufocadas pelo cansaço físico. Resultando em ignorância sem limites e dando continuidade a um círculo infinito.
O esforço exigido pelo trabalho físico desgastou e fez com que cada uma das Marias deixasse seu interesse em aprender algo novo esquecido e registrado em um único caderno. Mesmo tendo imaginado a conquista de uma vida diferente, a falta de incentivo e a represália mostram esse anseio como impossível e com o passar do tempo e as barreiras que surgem se tornam imensas muralhas e adquirem proporções alarmantes.
Os programas sociais disponibilizados para que as crianças permaneçam na escola, não chegam a essas famílias devido à falta de planejamento e de empenho dos responsáveis. Logicamente se uma criança, em idade escolar, encontra apoio e incentivo jamais irá abandonar os estudos e terá um desempenho ótimo. Com isso, a contribuição com o desenvolvimento educacional, profissional e social seria notável, além do crescimento pessoal e do prazer de vivenciar novas experiências.
Portanto, o ambiente em que a pessoa vive, a repetição de histórias e o desgaste a partir do trabalho precoce me fazem refletir sobre algo tão indispensável que é o cuidado com o ser humano. Como Maria José, Maria de Lurdes, Maria da Conceição e muitas outras têm que abandonar seus sonhos, seus objetivos para cumprir com obrigações incompatíveis com seu desenvolvimento físico e emocional, adquirindo as mesmas posições vividas por seus responsáveis. O que há de errado com os programas sociais criados para ajudar essas famílias? Talvez não chegue a elas por que estão à margem da sociedade. Enquanto isso, muitas e muitas Marias continuam essa triste trajetória.
As esperanças sufocadas nessas famílias me fizeram lembrar uma desabafo que uma mãe disse a seu filho após ver o resultado de suas notas “Meu filho, a única herança que posso deixar pra você é o estudo, faço das ‘tripas’ coração pra que você tenha a oportunidade que não pude ter.” e depois continuou contando sua trajetória idêntica a de muitas Marias, inclusive esse era seu nome, não estudo devido a necessidade de ajudar seus pais, depois casou teve muitos filhos e o tempo não deixou que ela retornasse.
Por isso, deve haver mudanças em nosso âmbito educacional, todos devem agir e encontrar meios de transformar essa realidade e impedir a reprise dessas histórias.